Demissões explodem após posts celebrando morte de Charlie Kirk

A pressão para identificar e punir pessoas que comemoraram o assassinato do influenciador conservador Charlie Kirk já resultou em suspensões e demissões em diversos setores dos Estados Unidos, um movimento impulsionado por declarações do vice-presidente J.D. Vance e endossado por parlamentares republicanos.
Durante a apresentação de um episódio do “Charlie Kirk Show” na segunda-feira, Vance conclamou o público a alertar empregadores sobre postagens que exaltassem a morte de Kirk, baleado no pescoço enquanto mediava um debate na Universidade Utah Valley na quarta-feira anterior. O vice-presidente enfatizou que “não há civilidade em festejar assassinatos políticos” e associou eleitores de esquerda a uma maior propensão a justificar violência, citando pesquisa da YouGov.
A fala ecoou em Washington. O deputado da Flórida Randy Fine prometeu exigir “demissão, corte de verbas e cassação de licenças” de quem celebrasse o crime, enquanto a congressista da Carolina do Sul Nancy Mace pediu ao Departamento de Educação que bloqueasse recursos federais a escolas que se recusassem a punir funcionários por manifestações consideradas insensíveis.
A repercussão imediata se deu nas redes sociais, onde postagens sobre a morte de Kirk viraram alvo de rastreamento. Entre os casos mais notórios está Anthony Pough, agente do Serviço Secreto que escreveu no Facebook que o apresentador “espalhou ódio e racismo”. A corporação suspendeu o funcionário e revogou sua autorização de segurança. Em memorando interno, o diretor Sean Curran lembrou que o órgão deve “ser parte da solução, não do problema”.
Profissionais do setor privado também foram dispensados. A rede Office Depot confirmou à BBC a demissão de empregados de uma loja em Michigan depois que um vídeo mostrou o grupo se recusando a imprimir cartazes para uma vigília em memória de Kirk. A empresa classificou a conduta como “inaceitável e insensível”, em violação às diretrizes corporativas.
No meio acadêmico, as consequências se acumularam. A Universidade Clemson, na Carolina do Sul, anunciou o desligamento de um servidor e licença remunerada para dois professores devido a publicações tidas como inadequadas. No Canadá, a Universidade de Toronto afastou a professora Ruth Marshall após ela sugerir on-line que “tiros são bons demais” para certos grupos políticos, levando o episódio a ultrapassar as fronteiras norte-americanas.
O jornalismo não saiu ileso. A colunista Karen Attiah revelou ter sido dispensada pelo Washington Post após posts no Bluesky sobre a morte de Kirk. Ela argumenta que o veículo cedeu a pressões externas e alimentou a chamada “cultura do cancelamento”, termo usado para descrever punições sociais ou profissionais decorrentes de opiniões polêmicas.
A legislação trabalhista norte-americana concede margem para esses desligamentos. A maioria dos empregados atua sob contratos “at-will”, que permitem rescisão sem necessidade de justificativa formal. Segundo o professor de Direito Steven Collis, da Universidade do Texas em Austin, a Primeira Emenda protege cidadãos contra censura do Estado, não de empregadores privados. “As empresas têm ampla discricionariedade para agir, salvo em situações de discriminação prevista em lei”, explicou.
Especialistas em relações trabalhistas alertam, entretanto, para possíveis excessos. Risa Lieberwitz, diretora do Worker Institute da Universidade Cornell, afirma que figuras públicas podem ferir liberdades constitucionais ao exigir retaliações. Para ela, o clima de apreensão reflete “temor de represálias de um eventual segundo governo Trump contra quem não aderir à agenda política conservadora”.
Entidades acadêmicas reforçam a crítica. A Associação Americana de Professores Universitários publicou nota defendendo a autonomia docente e reprovando punições motivadas por pressão política. A discussão reacende debates sobre diversidade de pensamento nos campi e sobre a linha tênue entre discurso de ódio e liberdade de expressão.
Enquanto isso, o caso Kirk continua a polarizar o país. O suspeito de efetuar os disparos permanece detido em Utah sem admitir culpa nem colaborar com investigadores, segundo o governador do estado. Paralelamente, dados compilados por organizações independentes apontam crescimento de atos de violência política tanto à esquerda quanto à direita, sugerindo que novos episódios podem manter o tema no centro da agenda pública.
Para analistas de mídia, o posicionamento de J.D. Vance marca uma estratégia de galvanizar a base conservadora em ano eleitoral, convertendo o assassinato em símbolo de ataques à liberdade religiosa e à livre expressão de valores tradicionais. Por outro lado, críticos temem que o precedente estimule campanhas de linchamento virtual e retaliação profissional por divergências ideológicas, ampliando a já profunda cisão sociopolítica norte-americana.
Com investigações em curso, as demissões evidenciam um dilema: como equilibrar o combate à incitação à violência e a salvaguarda do direito de opinar? Até que a Justiça esclareça responsabilidades no caso Kirk, empregadores e tribunais deverão ser chamados a definir limites entre discurso legítimo e conduta passível de sanção no ambiente de trabalho.
Crédito Foto: Getty Images via BBC
Fonte das informações: {source_name}